TEXTO OBITIDO NO
SITE: de autoria de ARNALDO POESIA.
~ Um Estudo Sobre Hamlet ~
"O mundo é todo
um palco."
Lema do Globe Theater, 1599
–
Hamlet e Ofélia
|
Hamlet, príncipe da Dinamarca, peça escrita provavelmente em 1600/2,
é seguramente a tragédia de Shakespeare mais representada em todos os tempos e
a que mais se prestou a interpretações de toda ordem. Praticamente todos os
escritores e pensadores importantes nos últimos quatro séculos deixaram suas
impressões sobre o impacto que lhes causou a história do infeliz príncipe da
Dinamarca, constrangido a fazer, sem nenhuma vocação para tal, uma terrível
vingança.
~ Estrutura e inspiração ~
Estrutural e tecnicamente, Hamlet é a peça mais longa escrita por Shakespeare (4.042 linhas com 29.551
palavras, 73% delas em verso e 27% em prosa) e, provavelmente, a que mais lhe
deu trabalho. Supõe-se inclusive a existência de um esboço original que teria
sido alinhavado uns dez ou 12 anos antes da sua conclusão, ali por 1588. Texto
que os críticos denominaram de Ur-Hamlet(um primeiro Hamlet).
Isso porém são especulações, pois a influência mais direta sobre ele veio mesmo
da peça The Spanish Tragedie,
– O
castelo de Elsenor, palco da tragédia
|
Uma Tragédia Espanhola, de um autor de menor importância
chamado Thomas Kyd, que a encenou possivelmente em 1590. Não seria a primeira
vez na história cultural, nem a última, em que um traço tosco qualquer servisse
como chispa para que alguém de talento ou gênio empolgue-se fazendo dele
maravilhas.
~ A história de Hamlet ~
A fonte original da história do príncipe dinamarquês encontrou-se na Gesta Danorum, obra de Saxo Gramaticus, (1150-1206), escrita em latim mas que recebeu
o título de Danish History, na edição inglesa
de 1514. A versão que chegou às mãos de Shakespeare é de se supor tenha sido a
de Belleforest, intitulada de Histoires Tragiques, de 1570. Coube ao
bardo alterar alguns aspectos do enredo e os nomes originais dos personagens.
No Hamlet de Shakespeare, por exemplo, Fergon, o rei criminoso que mata o irmão
para ficar com o trono e a cunhada chama-se Cláudio; o rei morto Horwendil
passou a ser Hamlet-pai, enquanto a rainha Gerutha tornou-se simplesmente Gertudres.
Amleth, o filho vingador, foi regrafado como Hamlet (o mesmo nome que
Shakespeare deu ao seu filho Hamnet, que morreu na infância). Tudo indica que a
tragédia, que se passa no castelo de Elsenor, na Dinamarca, era muito popular
entre os escandinavos em geral, havendo uma série de lendas dela derivada.
Acredita-se que mesmo na época de Shakespeare, uma versão alemã da tragédia do
príncipe dinamarquês corria encenada pela Europa.
~ Os personagens ~
Além de Hamlet, fingindo-se boa parte do tempo de louco — e que domina a
peça do princípio ao fim como uma estrela lúgubre, sempre trajando preto,
demonstrando o luto como um desagrado moral — está o seu rival, o tio Cláudio.
Este teria assassinado o pai de Hamlet por meio de um estratagema covarde (Cláudio
pingou gotas de um funesto licor no ouvido do rei Hamlet enquanto este dormia
num banco de um jardim no castelo de Elsenor). Havia pois algo de podre no
Reino da Dinamarca!
–
Hamlet depara-se com a caveira
|
Em meio a esses dois leões que vão nutrindo, um pelo outro, um ódio
crescente ao longo da história, tentando ser um algodão entre os cristais, está
a rainha Gertudres, mãe de Hamlet, e também Polônio, o ministro da casa.
Polônio não só é o típico cortesão que pretende acomodar tudo, como também é o
pai da jovem Ofélia, a frágil prometida de Hamlet. Ele também tem um filho,
Laertes, estudante como Hamlet, que mais tarde, cabalado por Cláudio, vai
querer vingar a morte do pai, pois o desastrado Polônio terminara, por engano,
mortalmente estocado por Hamlet ao esconder-se atrás de uma cortina no quarto
da Rainha Gertrudes. Ao redor desses personagens centrais, circulam outros de
menor expressão como Rosencrantz e Guildenstern, ex-colegas de Hamlet que
também são aliciados na trama por Cláudio.
~ Um final terrível ~
Depois de peripécias mil, Hamlet, no ato final, vê-se desafiado para um
duelo de espada por Laertes. O jovem, devidamente instrumentalizado por
Cláudio, que lhe insuflou o desejo de vingança, ainda aceitou participar de uma
perfídia. Sabendo ser Hamlet um bom espadachim, deixou-se convencer, pelo rei
– A
morte de Hamlet
|
criminoso, em embeber com mortal veneno a lâmina da sua espada.
Garantia-se assim de que o príncipe não sairia vivo do recinto da corte, fosse
qual fosse o resultado da peleja. O desfecho, porém, foi tétrico. Deu-se uma
sucessão avassaladora de mortes. A sala da corte do rei Cláudio tornou-se o
sepulcro da dinastia dos Hamlet. Ferido de morte por uma estocada de Hamlet,
Laertes, agonizante, revelou-lhe o plano monstruoso do tio. O príncipe, àquela
altura, trazia no sangue a poção maligna, pois Laertes o atingira de raspão.
~ Espadas e venenos ~
– O
espectro do pai exige que o filho o vingue
|
Não querendo entregar-se à morte, que já lhe anuviava a mente, antes de
poder cumprir com a vingança final, Hamlet concentra sua forças para, num só
golpe, prostrar o rei Cláudio. Este morre na hora. A rainha Gertrudes, por sua
vez, desconhecendo a segunda armadilha que o rei preparara para o seu filho,
emborca num gesto só uma taça envenenada que o marido deixara de reserva sobre
uma bandeja. Sofre uma síncope instantânea. A cena é brutal. Corpos jazem por
todos lados. Laertes e Cláudio, sangram até a morte trespassados pela lâmina de
Hamlet, enquanto esse e a rainha sua mãe contraem-se empeçonhados.
Nesse momento, eis que surge o jovem Fortimbrás, o novo rei da Dinamarca
que viera reclamar o trono (o pai de Fortimbrás vira-se usurpado pelo rei
Hamlet). Contemplando o horrível quadro, ele compreende que a justiça final
fora feita. A ordem voltara a imperar no Reino da Dinamarca. Purificava-se o
trono. A podridão de cercava o reino fora removida.